Antes que você começe a pensar em onde guardou aquela faca afiada e aonde irá conseguir um animal para sacrificar - ou caso já tenha aberto um e-mail em outra janela para descarregar todos os xingamentos que conhece em mim -, CALMA! Apesar do nome bem pouco convidativo para a nossa língua, o Eudemonismo refere-se a qualquer doutrina que assuma a felicidade como princípio e fundamento da vida moral.
Ufa, ainda bem!
Agora que o nosso entendimento está em uníssono, deixe-me versar um pouco mais sobre a origem desta bela prática.
Eudemonismo provém do grego Eudaimonia e significa felicidade, ou literalmente, "ter um bom espírito guardião". O Eudemonismo foi primeiro citado na Ética à Nicômaco de Aristóteles (384-322 a.C.) e significa que todas as ações corretas garantem um grande bem à todas as pessoas. Segundo Aristóteles, não apenas virtudes, dinheiro e saúde garantem a felicidade, se não adicionarmos a estas uma reflexão do que queremos e qual o nosso objetivo. O filósofo alerta na obra que a felicidade não é um fim, mas o fim em sí mesmo, o grande objetivo da vida. Felicidade, para ele, não pode ser um estado temporário, mas um estado alcançado através de uma vida de ações virtuosas.
O Eudemonismo influenciou o pensamento do filósofo Epicuro de Samos (341-270 a.C.), conhecido como o "filósofo da alegria", por difundir as virtudes como base da felicidade na sua escola, chamada "O Jardim", apesar de relacionar a felicidade com o prazer.
A seguir, encontramos o Eudemonismo como base da ética do Estoicismo, um movimento espiritual e moral bastante difundido entre os povos do Mediterrâneo e da Ásia Menor entre o sec. III a.C. até o ano 300 d.C., fundado por Zenon de Cítio (336-264 a.C.). Seus principais representantes foram Sêneca, Epicteto e o Imperador Romano Marco Aurélio.
Nosso tema irá refletir na base do Neoplatonismo, um movimento filosófico que resgata Platão mas com uma base monista-idealista. Seu principal representante, Plotino (205-270 d.C.), a introduz como fundamento basilar "o Uno", o qual mais tarde seria aproveitado para a concepção das características do Deus da Igreja Romana no Primeiro Concílio de Nicéia (325 d.C.).
Mas a partir do humanismo, a exemplo do Epicurismo, a felicidade começa a ser ligada à noção de prazer, ou a contínuos prazeres. Citando Leibniz (1646-1716): "Creio que a felicidade é um prazer durável, o que não poderia acontecer sem o progresso contínuo a novos prazeres" e outro expoente do humanismo, Locke (1632-1704): "A felicidade é o maior prazer que somos capazes e a infelicidade o maior sofrimento; o grau ínfimo daquilo que pode ser chamado de felicidade é estar tão livre de sofrimentos e ter tanto prazer presente que não é possível contentar-se com menos".
A noção de Eudemonismo lentamente retorna à sua concepção original, aristotélica, inicialmente com David Hume (1711-1776), e, num segundo momento, tornando-se a base do movimento reformador inglês do séc. XIX, até culminar, como muitos problemas filosóficos, em Immanuel Kant (1724-1804), considerado por muitos como o último dos filósofos antigos e o primeiro filósofo modermo. Iremos abranger seus extensos trabalhos em instância única.
Kant, supreedentemente, rejeita a noção de Eudemonismo, talvez por relacioná-la aos seus colegas filósofos de movimentos recentes. Acredita que a felicidade é o ponto de vista do egoísmo moral, ou seja, da doutrina "de quem restringe todos os fins a si mesmo e nada vê de útil fora do que lhe interessa", conforme escrito em sua Antropologia.
Fontes: Livros Plotino, Epicuro e O Estoicismo Romano, de Reinholdo Aloysio Ullmann e Diccionário de Filosofía Herder.