Este não é o presente de Friederich, é um resumo do seu breve passado.
Aprendeu com Heinrich Himmler a ser impiedoso, mas não conseguia convencer o reflexo no espelho que era: demonstrava frieza com o outro, mas a culpa corroia-o. Resultado das inúmeras vezes que disparou a sua pistola entre os olhos dos judeus, torturou inocentes e separou as famílias de sua própria pátria, agora travestida com a insígnia vermelha e preta que ele encontrara no teto do mundo. Foi o próprio Himmler que o enviou à Índia e ao Tibete para encontrar os ancestrais da raça ariana. Em Varanasi, ganhou uma bola de haxixe de um mercador de escravos. Ingeriu-a nos arredores de Lhasa enquanto o sol se punha. Até então, Friederich não soube explicar o que aconteceu em seguida. Atribuiu ao ar rarefeito, mas o antropólogo que lhe acompanhava na missão explicava com a emoção o que ele queria ocultar com a razão: "Cada um que você destrói, mata-lhe. Não se surpreenda, pois trouxe à tona os seus demônios internos." Durante os efeitos da droga, vivenciou momentos intermináveis de agonia. Lutava contra a serpente de Shiva, que observava pelo olho de uma das suas quatro palmas a agonia de Friederich. O réptil mordia-o nos olhos e na boca. Jogava-o de um lado para outro como se fosse um brinquedo em mãos descuidadas. Arrancava pedaços. Em certo momento, indelével na sua mente – e fonte de sobressaltos durante muitas madrugadas -, Shiva o imobilizou, e a sua serpente invadiu as entranhas de Friederich pela boca. Perdeu a consciência. Acordou seis dias depois no trem para Nova Déli, com oito quilos a menos.
Esse ainda não é o presente de Friederich, mas o seu passado recente.
Neste, fora encurralado pelos russos ao fugir de um bunker em Berlim. Sacou a mesma pistola que tirou tantas vidas para executar o mesmo movimento para subtrair a sua. O perturbado oficial da SS acertou o tiro de raspão na sua cabeça e entrou em coma.
Este é o presente de Friederich.
Ele rasga a bainha de sua calça para cobrir o pedaço da sua perna que fora arrancado pela cobra de Shiva. “Consegui fugir dela ou deixaram que eu escapasse?” não era a pergunta prioritária em sua mente. “Como saio daqui?” é o questionamento que se faz todos os dias, nos mais de seis meses que conseguiu contar, desde que voltou ao lugar dos seus pesadelos. Tem consciência que está em coma, mas não concebe um modo de despertar. No entanto, sabe que não merecia estar em qualquer outro lugar.
Esse será o futuro de Friederich.
Aprendeu com Heinrich Himmler a ser impiedoso, mas não conseguia convencer o reflexo no espelho que era: demonstrava frieza com o outro, mas a culpa corroia-o. Resultado das inúmeras vezes que disparou a sua pistola entre os olhos dos judeus, torturou inocentes e separou as famílias de sua própria pátria, agora travestida com a insígnia vermelha e preta que ele encontrara no teto do mundo. Foi o próprio Himmler que o enviou à Índia e ao Tibete para encontrar os ancestrais da raça ariana. Em Varanasi, ganhou uma bola de haxixe de um mercador de escravos. Ingeriu-a nos arredores de Lhasa enquanto o sol se punha. Até então, Friederich não soube explicar o que aconteceu em seguida. Atribuiu ao ar rarefeito, mas o antropólogo que lhe acompanhava na missão explicava com a emoção o que ele queria ocultar com a razão: "Cada um que você destrói, mata-lhe. Não se surpreenda, pois trouxe à tona os seus demônios internos." Durante os efeitos da droga, vivenciou momentos intermináveis de agonia. Lutava contra a serpente de Shiva, que observava pelo olho de uma das suas quatro palmas a agonia de Friederich. O réptil mordia-o nos olhos e na boca. Jogava-o de um lado para outro como se fosse um brinquedo em mãos descuidadas. Arrancava pedaços. Em certo momento, indelével na sua mente – e fonte de sobressaltos durante muitas madrugadas -, Shiva o imobilizou, e a sua serpente invadiu as entranhas de Friederich pela boca. Perdeu a consciência. Acordou seis dias depois no trem para Nova Déli, com oito quilos a menos.
Esse ainda não é o presente de Friederich, mas o seu passado recente.
Neste, fora encurralado pelos russos ao fugir de um bunker em Berlim. Sacou a mesma pistola que tirou tantas vidas para executar o mesmo movimento para subtrair a sua. O perturbado oficial da SS acertou o tiro de raspão na sua cabeça e entrou em coma.
Este é o presente de Friederich.
Ele rasga a bainha de sua calça para cobrir o pedaço da sua perna que fora arrancado pela cobra de Shiva. “Consegui fugir dela ou deixaram que eu escapasse?” não era a pergunta prioritária em sua mente. “Como saio daqui?” é o questionamento que se faz todos os dias, nos mais de seis meses que conseguiu contar, desde que voltou ao lugar dos seus pesadelos. Tem consciência que está em coma, mas não concebe um modo de despertar. No entanto, sabe que não merecia estar em qualquer outro lugar.
Esse será o futuro de Friederich.
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