segunda-feira, outubro 01, 2007

Trans-ascendência: doe orgãos.

Em louvável iniciativa, os meios de comunicação abraçaram a bandeira da doação de órgãos. Deixaram de olhar para seus bolsos, focando em seus corações.

Por isso, manifeste aos seus familiares seu desejo de doar seus orgãos. Cada individuo pode salvar, da agonizante e traumática espera, de sete a oito pessoas. O que não irá mais nos servir, será o tesouro dos outros. Eis a transcedência prática da vida humana.

quarta-feira, abril 18, 2007

Políticos: façam Política! Governantes, governem!

É louvável a iniciativa dos nossos representantes no congresso em votar a redução da maioridade penal. No entanto, esta votação beira a inocência. Com um sistema carcerário falido, que não executa sua função de devolver o infrator como membro evolutivo a sociedade, como abrigar um aumento de presidiários?

Poderíamos deduzir que nossos governantes tem consciência disso e o fazem propositalmente?

Quanto tempo do governo de um político eleito é despreendido apenas fazendo política e deixando de governar? Na minha opinião, política e adminstração pública são coisas distintas. A política deveria ser feita pelos partidos cujos representantes não foram eleitos. E, a mais lógica das constatações, que o país seja administrado pelos representantes escolhidos pelo povo.

quinta-feira, março 22, 2007

O que é a filosofia, afinal?

Mário Ferreira dos Santos foi um exímio filósofo brasileiro, produtor de uma vasta bibliografia com geniais sistemas próprios. É respeitado no meio, porém não se tornou popular, talvez pela complexidade de alguns temas. É dele a melhor definição, na minha opinião, do que é a filosofia e do que não é. Foi com sua ajuda que compus os parágrafos seguintes, amparando-me no livro “Filosofia e Cosmovisão”.

A filosofia não é ciência, nem arte e nem religião, pois a ciência sabe, a religião crê e a arte cria. A filosofia é um querer saber.

Não há ciência sem objeto e o objeto da ciência é o regional, o particular. Tem fronteiras definidas. A ciência é o conhecimento do finito por suas causas imanentes e não transcende o seu objeto.

Uma religião, racionalizada,deixa de ser uma fé, pois esta exige o pleno consentimento do espírito, independente de prova. É a aceitação que é possível penetrar no transobjetivo, no transcendental e no transinteligível pela fé, pela revelação imediata ou mediata.

Já a arte não quer saber, nem crer, mas criar. É a manifestação do homem como criador. A arte é a constante aproximação do homem ao seu ideal de beleza, concretizando-o, tornando-o real nas obras. Prova disso é que cada artista possui um estilo plenamente distinguível dos demais.

O que sobra é a filosofia.

sexta-feira, março 16, 2007

Você consegue MU?

No ótimo livro vencedor do Pulitzer “Gödel, Escher and Bach: an Eternal Golden Braid”, (com edições esgotadas na língua portuguesa) de Douglas Hofstadter, o autor propõe-nos um interessante quebra cabeças lógico que gostaria de compartilhar com vocês, onde é introduzindo o Sistema Formal. O problema se chama “você consegue MU?”.

As regras são simples, mas devem ser seguidas com rigidez. Só há três letras do alfabeto a serem utilizadas: M, I e U. Você irá começar com MI e só utilizando-se das regras abaixo você poderá aumentar a sua coleção. Vamos a primeira:

Primeira regra: Se você possui um conjunto de letras que termina em I, você pode acrescentar um U no final. Por exemplo, de MI você poderá ter MIU.
Segunda regra: Supondo que você tenha Mx (onde x refere-se a qualquer letra), Você pode adicionar Mxx à sua coleção. Por exemplo, de MUM você poderá ter MUMUM.
Terceira regra: Se III ocorrer na sua coleção, você poderá fazer uma nova com U no lugar de III. Por exemplo, de MIIII você poderá obter MUI (ou MIU).
Observação: nenhuma das regras funcionam ao contrário; você não pode de MU obter MIII. As regras tem apenas uma via.
Quarta regra: Se qualquer seqüência de UU ocorrer na sua coleção, você poderá resumir a apenas um U. Por exemplo, de MUUUII você poderá ter MUII.
x
Eis suas regras. Mesmo que sob tentação, não as viole! Agora, tentem fazer MU partindo de MI. Divirtam-se!

terça-feira, março 13, 2007

Intelectuais do Brasil: uni-vos!

Tempos de (até que enfim) reforma ministerial, recomeça o eterno jogo de interesse político. Os que estão por cima tem preferência para escolherem as melhores pastas. Agora que as alianças, lá do inicio das eleições, estão colhendo os seus frutos.
Mas, reflitam comigo: que capacidade possui um político de gerir um ministério? Para este lugar, na minha opinião, deveriam ser escolhidos especialistas que tenham uma formação acadêmica e experiência direcionada para tanto. Um grande cientista para o ministério da ciência e tecnologia, um grande reitor para a educação, etc. Interessante que não está escrito, em nenhum lugar, que devam ser políticos os administradores destas pastas e tenho certeza que nosso país está transbordante de mentes brilhantes.
Vejam na prática: escolhido um técnico para um cargo como este, ou ele faz o ministério dar resultados ou pode dar adeus à pasta. Já um político no comando é um eterno buraco negro. Mesmo falhando - o que não chega a nós - ele irá ser realocado em outra posição do governo.
Priorizar a sua escolha é incentivar a formação de mais gêneros de sua espécie. Desta forma, iremos valorizar os nossos intelectuais e colocar os políticos no lugar certo: para fazer política.

sábado, março 10, 2007

Enfim, só.

Após ter reunido o equipamento necessário, iniciou a descida ao buraco descoberto nas dependências do templo pelo qual era responsável. Tinha a intuição de que havia algo grande a ser descoberto. Afinal, quanto mais oculto o tesouro, mais valioso.

Enquanto avançava nas profundezas a passos cuidadosos, amparado pela luz do lampião, deixava encantar-se com os detalhes das pedras que o cercavam. O coração turbulento determinava a velocidade do pensamento: “Eles vão ver. Vou mostrar a todos que não sou um inútil”, até sacudir a cabeça: “Ah, concentre-se! Malditos críticos. Sempre perturbando a minha paz”.

Após longos metros confrontando o subterrâneo, começou a duvidar da sua intuição, pois da sanidade já não tinha mais certeza. Não encontrara nada. Nenhuma jóia mágica, nenhuma livro sobrenatural.

Sentou para recuperar o fôlego numa protuberância da parede. Acompanhando o movimento do antebraço ao livrar-se do suor acumulado na testa, uma passagem se abre preguiçosamente. Tinha acionado um mecanismo oculto.

Com a respiração curta, entrou na caverna. Seu lampião mostrava nas paredes as inscrições de uma civilização há muito tempo esquecida. Centenas de relíquias dispostas sistematicamente pelo chão, aguardando um descobridor. Aguardando-o.

Esticara a mão para manipular uma estátua translúcida de uma figura incomparável. Antes das pontas dos dedos trêmulos entrarem em contato com o objeto, um estrondo estupendo reverberou pela caverna, jogando-o contra a parede. Ouviu ruídos similares, porém, bem mais distantes. Acreditou que não foram causados por nenhum dos seus atos, mas sua audição indicava que provinham da superfície.

Sua mente ficou inquieta. A intuição ansiosa que tinha há alguns minutos se transformara em apreensão pesarosa. Tinha que voltar.

Refez o caminho até a saída do buraco. Parecia bloqueada. Teve que forçar por três vezes para conseguir sair.

Não havia mais a sala de dispensa. Não havia mais templo. Nem a quadra que estava acostumado a percorrer de bicicleta e a praça onde rotineiramente lanchava. Não havia mais nada, em lugar nenhum. Nem ninguém.

Tudo estava destruído, reduzido a escombros. Começou a correr sem direção, procurando, aos berros, por algum sobrevivente. Correu e gritou por horas. Depois, caminhou e chamou por alguém durante dias. Não encontrou ninguém. Desistiu após duas semanas de tentativas frustradas.

Voltou para o buraco. Entrou na caverna. Estava jogado num canto, inexpressivo; no entanto, segurava desinteressadamente a estátua entre as mãos. Não tinha ninguém para compartilhar sua descoberta.

Anos depois, decifrou as inscrições nas paredes: “seu maior desejo pelo seu maior tesouro”. Tinha, enfim, conseguido o que queria: ficar sozinho.

sexta-feira, março 09, 2007

O preço das reeleições.

Permaneço esperançoso com a visita de Bush ao Brasil. Estando preocupado com a reeleição e com fortes candidatos no seu encalço, provavelmente Bush irá aliviar a carga tributária para a exportação de cana de açúcar para seu país. Seja qual for o plano que ele tinha ao não assinar o tratado de Kyoto, provavelmente não deu certo. Com o colapso ecológico iminente, Bush sabe que seu país é um dos mais industrializados do mundo e responsável por 35% das emissões de carbono na atmosfera. Como o biodísel e o Etanol são fontes de energia limpas, nada mais evidente que dominar esta tecnologia para garantir a permanência do seu partido no poder. Como sempre, uma questão de interesses. No entanto, nos tempos modernos, os interesses são determinados pelo benefício das massas. É o preço da popularidade política.

Enquanto isso, o custo do PAN estourou todos os orçamentos, onde estamos pagando 3,25 bilhões de reais! O governo federal participa com mais de 50%, R$ 1,65 bilhão, o governo do estado com 400 milhões e a prefeitura carioca com R$ 1,2 bilhões. O orçamento original era de R$ 949 milhões.

É inegável a importância da realização destes jogos no Brasil. Sou plenamente favorável ao esporte; de longe o evento que mais une pessoas no mundo. Mas a imprensa vincula desde a metade de fevereiro as condições deploráveis das escolas municipais, em estrutura, transporte, funcionários e professores. Nossas crianças estão esquecidas.

Quanta diferença faria este 1,65 bilhão de reais do governo federal à educação. É a única forma de evitarmos novas atrocidades absurdas como do menino João Hélio. Infelizmente, será sobre o acordo com os EUA a bandeira que o nosso presidente irá utilizar nos seus discursos inflamados para a sua reeleição.
Para se reelegerem, uns fingem ser o que não são, enquanto outros se mostram explicitamente. Quem é quem, você decide.

quarta-feira, março 07, 2007

Meditação como via do autoconhecimento

Uma surpresa interessante ao desfrutar da leitura de “A Mente Corpórea” de Francisco Varela, co-autor do também ótimo “A Árvore do Conhecimento”.
Como a maioria dos livros de filosofia, Varela inicia o raciocínio central definindo o objeto a ser estudado, buscando uma sintonia de compreensão com o leitor. No caso do estudo, o que é o ego único, o que nos faz sermos o que somos?
Vamos explorar um pouco mais esta pergunta antes de a respondermos. Constantemente agimos e pensamos como se tivéssemos algo a proteger e preservar. Se nos ferimos ou há uma música muito alta no vizinho rapidamente respondemos com medo e ira. Se há possibilidade de receber elogios, promoções ou fama, reagimos com cobiça, apego e orgulho. Esperar um ônibus, chegar por último num fila dantesca, aborrece-nos imediatamente. O que coordena estes impulsos instintivos e enormemente poderosos?
Varela responde radicalmente: nenhuma tradição reflexiva na história da humanidade – filosofia, ciência, religião – conseguiu responder a esta questão sem isolar o ser do mundo. A única que chega mais próxima é a religião; no entanto, exige transcendência, o que não pode ser atingido pela experiência.
Somente uma tradição encarou este problema diretamente: a meditação budista.
Aos que não estão familiarizados com esta prática, agrego que consiste em colocar-se em silêncio, confortavelmente, e através da concentração na respiração, procurar isolar a mente de pensamentos. Quem inicia a prática percebe quão caótico é o espaço entre nossas orelhas: há percepções, sensações, medos, ansiedades e desejos acotovelando-se, desejando sobrepujarem a nossa proposição de quietude. No entanto, os benefícios valem o esforço. Há um aumento significativo de tranqüilidade pessoal: absoluta necessidade para a sabedoria.
Aos que já buscavam a resposta para a pergunta central e não conheciam a meditação, recomendo o interesse por esta prática. Afinal, foi o budismo que invadiu o ocidente e não o inverso.

segunda-feira, março 05, 2007

Prostaglandinas para leigos, como nós.

Regojizo-me com a capacidade essencialmente humana em maravilhar-se. Aos que direcionam esta disposição para o conhecimento, o abasbacar-se com as descobertas da ciência deve ser impulsionado ao vislumbrar um ramo do qual não faz parte das nossas especializações.
Eis que, sorvendo meu chimarrão matutino enquanto folheava minha revista preferida, comecei a ler uma reportagem sobre os efeitos colaterais dos analgésicos. Certamente estes são os fármacos mais utilizados pela população. No entanto, como característica dos remédios, todo benefício acompanha um malefício.
Quando estamos com dor, inflamação e febre, nossas células produzem grande quantidade da molécula prostaglandina. Sua formação no organismo foi decifrada por Bengt Samuelsson, o qual foi agraciado com o Prêmio Nobel de Medicina em 1982 por esta contribuição. Estas moléculas são responsáveis pelo desconforto e mal estar que sentimos ao estarmos acometidos por alguma moléstia. No entanto, ela se mescla a enzimas para se mutar em variados benefícios à nossa constituição: regulação do sono, inibição de reações alérgicas, coagulação e danos ao revestimento do estômago. O problema é que analgésicos como a aspirina, com o objetivo de aliviar a dor, inibem a produção de todas prostaglandinas.
Atualmente, laboratórios como Biolipox, Merck e Pfizer já possuem patentes recém-registradas de analgésicos que bloqueiam a produção da prostaglandina E², justamente a única envolvida no processo da dor, imunizando as benéficas em executarem os seus trabalhos sem perturbações.

domingo, março 04, 2007

Olha só! (2)

O post abaixo, "Somos regra ou exceção?", pode ser apreciado na edição deste fim de semana no Correio de Gravataí, página 04.