quarta-feira, março 07, 2007

Meditação como via do autoconhecimento

Uma surpresa interessante ao desfrutar da leitura de “A Mente Corpórea” de Francisco Varela, co-autor do também ótimo “A Árvore do Conhecimento”.
Como a maioria dos livros de filosofia, Varela inicia o raciocínio central definindo o objeto a ser estudado, buscando uma sintonia de compreensão com o leitor. No caso do estudo, o que é o ego único, o que nos faz sermos o que somos?
Vamos explorar um pouco mais esta pergunta antes de a respondermos. Constantemente agimos e pensamos como se tivéssemos algo a proteger e preservar. Se nos ferimos ou há uma música muito alta no vizinho rapidamente respondemos com medo e ira. Se há possibilidade de receber elogios, promoções ou fama, reagimos com cobiça, apego e orgulho. Esperar um ônibus, chegar por último num fila dantesca, aborrece-nos imediatamente. O que coordena estes impulsos instintivos e enormemente poderosos?
Varela responde radicalmente: nenhuma tradição reflexiva na história da humanidade – filosofia, ciência, religião – conseguiu responder a esta questão sem isolar o ser do mundo. A única que chega mais próxima é a religião; no entanto, exige transcendência, o que não pode ser atingido pela experiência.
Somente uma tradição encarou este problema diretamente: a meditação budista.
Aos que não estão familiarizados com esta prática, agrego que consiste em colocar-se em silêncio, confortavelmente, e através da concentração na respiração, procurar isolar a mente de pensamentos. Quem inicia a prática percebe quão caótico é o espaço entre nossas orelhas: há percepções, sensações, medos, ansiedades e desejos acotovelando-se, desejando sobrepujarem a nossa proposição de quietude. No entanto, os benefícios valem o esforço. Há um aumento significativo de tranqüilidade pessoal: absoluta necessidade para a sabedoria.
Aos que já buscavam a resposta para a pergunta central e não conheciam a meditação, recomendo o interesse por esta prática. Afinal, foi o budismo que invadiu o ocidente e não o inverso.

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